O DISCRETO CHARME DE COTSWOLDS

O DISCRETO CHARME DE COTSWOLDS

Paisagens cinematográficas, casas centenárias de pedra calcária dourada com hotéis e culinária de primeira classe: conheça esta encantadora região da Inglaterra.

Por Marcello Borges

Cotswolds é uma pequena região a noroeste de Londres, com 40 quilômetros de largura e 145 de comprimento, dezenas de vilarejos e hamlets. O turismo é intenso: são mais de 38 milhões de visitantes por ano. As casas antigas, muitas com séculos de idade, são construídas de pedra calcária amarelada, conferindo um jeitão cinematográfico à paisagem. Aliás, cinema e TV sabem muito bem disso. A série de televisão Dowton Abbey, que trata da família de lorde Crawley e de seus criados, tem cenas filmadas em Bampton. Oxford, por sua vez, já serviu de ambientação para Harry Potter, O Ultimato Bourne, Memórias de Brideshead e outros filmes e seriados, enquanto Chavenage House, em Tetbury, apareceu em Tess of the D’Urbervilles, e a prefeitura de Cheltenham foi palco de Orgulho e Preconceito.

Para muitos, a palavra cotswolds provém de wold, “colina suave”, e cots, “redil” ou curral de ovelhas. É o que o visitante encontra na maior parte do tempo: gramados, arvoredos e colinas suaves habitadas por ovelhas, vacas e cavalos. A lã das ovelhas foi o motor comercial da região por séculos, a ponto de algumas igrejas serem chamadas de wool churches por terem sido construídas com o dinheiro proveniente da lã.

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Mas engana-se quem reduz Cotswolds a apenas essa paisagem. Hotéis de primeira classe e refúgios de fim de semana de gente como Kate Winslet, Hugh Grant, Kate Moss, Stella McCartney e de membros da família real, a exemplo da princesa Anne e do príncipe Charles, entremeiam casas centenárias, devidamente reformadas e com confortos e amenidades modernas. Não raro, encontram-se propriedades à venda por mais de 5,5 milhões de libras esterlinas. Outras mais modestas, com um dormitório, são alugadas por 550 libras por mês.

Para entrar no clima inglês desde o comecinho de sua viagem, voe pela British Airways. A classe World Traveller Plus, tem assentos mais largos, cabine separada, comida e amenidades diferenciadas. Ainda melhor, a Club World oferece poltronas espaçosas e ergonômicas e ampla gama de vinhos para acompanhar sua refeição. Você é recebido com champanhes do quilate do Taittinger Brut e pode pedir vinhos de Bordeaux da qualidade do Château Favray Pouilly-Fumé ou do Château Landat.

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Lugar perfeito para começar um roteiro por Cotswolds saindo de Londres é o castelo de Windsor, uma das residências reais. Construído no século 11 por Guilherme 1º após a conquista normanda da Inglaterra e usado desde o rei Henrique 1º, trata-se do castelo habitado há mais tempo na Europa. Foi o refúgio da família real quando Londres serviu de alvo dos bombardeios nazistas, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e é o retiro preferido da rainha Elizabeth 2ª. A coleção de arte, a casa de bonecas da rainha Mary e o salão dos Cavaleiros da Ordem da Jarreteira são algumas das atrações dessa bela construção. Para o passeio, você pode usar um guia multimídia portátil que fornece informações detalhadas sobre cada ponto de interesse – inclusive em português.

De lá, rume para o Manoir aux Quat’Saisons, hotel da rede Belmond. Situado no vilarejo de Great Milton, em Oxfordshire, abriga um restaurante contemplado, desde 1985, com duas estrelas do Michelin. Seus 32 apartamentos e suítes são únicos. Cada um é completamente diferente do outro, todos com a elegância e o conforto que se espera de um estabelecimento participante do grupo Relais & Châteaux e da organização Les Grandes Tables du Monde.

As crianças recebem atenção especial no hotel, com detalhes simpáticos como jogos ao ar livre (croquet, anyone?), sabonetes mamãe/bebê no banheiro, roupões mirins, caixa de brinquedos no quarto, Nintendo e até cardápio infantil no restaurante. Quer levar o totó? Seu cãozinho irá ganir de alegria com os mimos.

O chef e chairman francês Raymond Blanc nasceu perto de Besançon e abriu seu restaurante inicial, Les Quat’Saisons, em 1977, em Oxford. Coleciona referências e prêmios, incluindo o título de Oficial da Ordem do Império Britânico e o Travel Awards de 2014 como melhor hotel do Reino Unido. Atenção: é obrigatória uma visita aos gramados, ao jardim japonês, ao pomar e à horta. A escola de culinária Raymond Blanc Cookery School oferece cursos com meio dia, um dia ou mais, gerais ou específicos.

Já o restaurante conta com uma vasta adega de mil rótulos, dos quais 60% franceses. Escolha obrigatória é o menu découverte de sete pratos, com a opção de vinhos especialmente selecionados para acompanhar cada um.

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A próxima cidade da região – e uma das mais importantes da Inglaterra – pode ser Oxford. O nome significa mais ou menos “parte rasa do rio (ford)que o gado (ox) atravessa”. É famosa mundialmente pela universidade que leva seu nome, fundada nos primórdios do segundo milênio. C.S. Lewis, autor de Crônicas de Nárnia, e J.R.R. Tolkien encontravam-se com frequência no pub The Eagle and Child, na St. Giles Street, para trocarem ideias sobre seus livros em andamento.

Vale hospedar-se no Malmaison, hotel boutique instalado num castelo medieval – o castelo de Oxford, construído em 1071 por Guilherme, o Conquistador, e depois convertido em prisão. A enorme população carcerária obrigou a fortaleza a ser vendida para a municipalidade por meras 9 mil libras esterlinas, e passou para o grupo hoteleiro que administra o hotel em 2003. As obras foram concluídas em dezembro de 2005, e o Malmaison acena hoje com 95 quartos e suítes, além de bar e restaurante. Ainda é possível visitar uma das celas originais, com três leitos.

Em Oxford viveu Henry Liddell, reitor do Christ Church College. Um amigo de Henry, Charles Lutwidge Dodgson, era professor de matemática da faculdade e divertia as filhas do reitor contando-lhes histórias. Uma dessas garotinhas era Alice, que inspirou Dodgson, sob o pseudônimo de Lewis Carroll, a escrever Alice no País das Maravihas. Procure o guia Alice’s Oxford on Foot, escrito por Mark Davies, historiador da região. Ele aponta dois roteiros a pé para conhecer lugares da cidade relacionados à célebre personagem. Outra boa pedida é fazer um passeio de barco pelo Tâmisa, o mesmo rio que percorre Londres.

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De Oxford, é mandatório ir ao palácio de Blenheim, em Woodstock, um dos mais belos da Inglaterra. Foi construído por John Churchill, primeiro duque de Marlborough, em comemoração por sua vitória contra os franceses e os bávaros em 1704. Abrigando um maravilhoso parque e uma coleção admirável de obras de arte, o palácio destaca-se, ainda, por ter sido o local de nascimento de Winston Churchill (1874-1965), neto do sétimo duque. Como seu pai não era o primogênito, Churchill não herdou nem o título nem a fortuna da família. Foi no entanto um herói da Grã-Bretanha na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e considerado por alguns como o maior inglês de todos. Para quem deseja fazer uma peregrinação completa, Churchill está enterrado no cemitério da igreja de Bladon, perto dali.

Você caminhou bastante até agora e é justo descansar visitando algumas das melhores lojas internacionais num elegante outlet, o Bicester Village. A lista de marcas é longa, mas para os homens sugiro conhecer as camisas da Charles Tyrwhitt (lê-se “tirrit”), com preços excelentes e alta qualidade, bem como as fragrâncias tipicamente britânicas da Penhaligon.

Stow-on-the-Wold é o mais alto vilarejo de Cotswolds, com galerias e lojas de arte e antiguidades. Na região, o endereço perfeito para almoçar é o The Wild Rabbit, antes de montar a cavalo no Cotswolds Riding. A cidadezinha de Chipping Campden foi chamada pelo historiador inglês G.M. Trevelyan (1876-1962) de “o mais belo vilarejo que resta na Ilha”, com uma multicentenária praça do mercado.

Outra sugestão? Passe a noite no Old Swan & Minster Mill, cuja construção principal data de 1445. Como outros estabelecimentos da região, a ideia é proporcionar ao hóspede a sensação de estar em sua casa de campo, com boa comida e fantásticos vinhos. Os 16 quartos do prédio do Old Swan têm nomes e acomodações mais generosas; os 40 do Minster Mill, do outro lado da rua, são menores, mas igualmente charmosos. O hotel conta ainda com um spa da Yon-Ka, quadra de tênis, sala de ginástica e outras amenidades, como wi-fi de boa qualidade.

Nas proximidades, explore vilarejos como Burford, Bibury e Tetbury. Este último é onde fica Highgrove, com um magnífico Jardim Real que nos fins de semana recebe a atenção do príncipe Charles, dono da mansão. Os nomes ingleses com sufixo cester têm origem romana, derivados de castrum, acampamento militar. É o caso de Cirencester, que sedia um belo museu com a história da região. Vilarejos como Bourton on the Water, The Slaughters e Broadway, com sua torre, abrigam a arquitetura típica. Os fãs de Dowton Abbey, óbvio, não podem deixar de conhecer Bampton. Hora de dizer cheers! e voltar quando der saudade.

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