Ford deixou o Brasil. Por quê?

O momento do mercado automotivo brasileiro não é dos melhores, mas é certo que a decisão da empresa americana não está embasada no presente e sim no futuro

Por Oskar Kedor, CEO e fundador da Mobility S/A

A americana Ford  anunciou que vai deixar o País. Esta decisão, já expressa como irrevogável, pegou a todos de surpresa. É a segunda grande marca do setor que deixa o Brasil “a pé”; a primeira foi a alemã Mercedes Benz. Muito se especula sobre as razões desse anúncio intempestivo: dólar nas nuvens, impostos elevados, meio ambiente agredido, política econômica frágil e redução de vendas. Isso tudo além da pandemia. Pode ser sim um pouco disso tudo ou tudo isso mesmo. E mais alguma coisa.

Analistas lembram dos carros elétricos, que a Ford demorou para enxergar como o futuro inexorável do setor. Outras empresas saíram em disparada na frente, como a Tesla, uma neófita no segmento automobilístico. Agora, a mais tradicional fabricante de automóveis do mundo, criada pelo lendário Henry Ford, busca desesperadamente recuperar o espaço perdido. E para tanto, está ceifando as arestas.

O setor automobilístico tradicional, movido a combustível fóssil, enfrenta uma encruzilhada impiedosa: muda e avança ou permanece como está e fenece. É apenas uma questão de tempo. Os carros elétricos ganham cada vez mais espaços na pista e numa velocidade impressionante. Na Noruega, por exemplo, mais da metade de sua frota de automóveis é formada por carros movidos a eletricidade. Outros países da Europa já definiram datas para banir de suas cidades os carros movidos a gasolina e diesel. Há anos o meio ambiente “grita” e, ao que parece, governos finalmente estão escutando e tomando as devidas providências.

O carro elétrico, não resta dúvida, é o vilão que hoje assusta o carro tradicional. É a eterna luta do moderno contra o antigo. A História está repleta de exemplos. O espaço, como no caso em tela, não permite a coexistência entre ambos os modelos. Apenas um sobreviverá.

Não se pode permitir, no entanto, que essa disputa, que ainda promete lances mais dramáticos, turve a visão e impeça de se ver o que mais está acontecendo no mercado de mobilidade e motivando decisões como a da Ford, de rever os seus modelos de negócios. Além do carro elétrico, há que se atentar para o novo consumidor, ou o consumidor dos novos tempos, que tem questionado o seu sentimento de posse, da necessidade de se ter, de ser o dono deste ou daquele bem. Dentre os vários produtos que a nova geração de consumidores considera transitório, de uso momentâneo, o carro é o principal deles.

Essa nova geração de consumidores é adepta do compartilhamento de bens. Várias empresas já se deram conta desse movimento e se preparam para se adequar às mudanças. Hoje, por exemplo, se qualquer consumidor quiser desfilar com um carro da última geração pelas principais avenidas do mundo, não precisa possuir o veículo; pode tê-lo apenas por algumas horas, por dia, semana ou mês. Essas novas modalidades de contrato – por assinatura, aluguel, eventual e por hora – estão crescendo e revelam a tendência do mercado de mobilidade, que ganhou impulso com a pandemia. Não é segredo que o transporte coletivo é foco de aglomeração e, por consequência, de elevado número de contaminação.

Conforme frisado no início, são várias as motivações para a saída da Ford do mercado brasileiro e estas não se restringem aos fatores políticos e econômicos do presente, mas também e principalmente às mudanças que a empresa já vislumbra em seu horizonte, tanto no modelo energético do produto que fabrica como nas diferentes maneiras da sua utilização pelo consumidor destes novos tempos. A Ford está olhando para o hoje, porém mirando para o amanhã.

PIX. Boas notícias?

O impacto do Sistema de Pagamentos Instantâneos para o mercado brasileiro

O impacto do Sistema de Pagamentos Instantâneos para o mercado brasileiro

Por Nedyr Pimenta Filho, diretor de Inovação da Provider IT

Pagamentos Instantâneos (PIX) já são uma realidade no Brasil. A tecnologia é uma iniciativa do Banco Central do Brasil (BCB) com o objetivo de aumentar a capilaridade de pessoas no mercado financeiro e, consequentemente, elevar a competitividade deste segmento. Segundo estudo realizado pelo Banco BS2 em parceria com o painel OpinionBox, 73% dos brasileiros bancarizados pretendem utilizar o PIX em suas transações. Mas, qual é o verdadeiro impacto do Sistema de Pagamentos Instantâneos para o mercado brasileiro?

O PIX trouxe muitas inovações. Entre elas, é importante destacar a utilização de chaves (CPF, e-mail e número do telefone celular) ou QR CODE para iniciar uma transação de pagamento, sem a necessidade de o pagador tramitar várias informações para realizá-la. O novo sistema trouxe celeridade ao processo de pagamento, uma vez que a maioria das transações passou a ser efetuadas em menos de 10 segundos, além da disponibilidade do serviço durante todos os dias do ano, mesmo aos finais de semana e feriados.

Outra funcionalidade inovadora é a possibilidade de anexar referências por meio de links da internet, com informações adicionais que podem trazer ao pagamento dados não financeiros como número de venda, itens dos pedidos, descontos, entre outros. Desta forma, estas são as características que tornam o PIX único: disponibilidade plena, multiplicidades de casos de usos, conveniência, informações agregadas, segurança e ambiente aberto, já que além dos bancos, outras instituições financeiras (PSP indiretos) têm acesso para operar com o sistema.

Segundo o Banco Central, o PIX é mais uma forma de pagamento que deverá coexistir com outras já existentes no mercado brasileiro. A expectativa é de que a tecnologia absorva, quase que por completo, o espaço existente para TED, DOC, Pagamento do Débito e Pagamento de Contas, substituindo o código de barras. Todas essas características causam um grande impacto, aumentando a competitividade no mercado financeiro com a inclusão do Prestador de Serviço de Pagamento – PSP indiretos no PIX, e permitindo que as Fintechs ou Instituição de pagamentos – IPs, que possuem contas transacionais, insiram seus clientes neste ecossistema. Assim, o público que não consegue abrir contas nos bancos tradicionais é adotado por essas novas empresas e entram para o mercado financeiro, deixando de ser “não bancarizados” (expressão que indica a exclusão das pessoas do mercado financeiro). Com esses novos usuários, o resultado será uma diminuição da circulação do papel e moeda no mercado, o que acarretará na baixa do custo do transporte e segurança do dinheiro, por exemplo.

Os desafios do Sistema de Pagamentos Instantâneos

O maior desafio foi a adequação dos sistemas para a utilização das plataformas do PIX: SPI (Sistema de Instantâneos) e DICT (Diretório de Identificadores de Contas Transacionais), para poder utilizar o serviço do BCB. Entretanto, outras questões ainda estão por vir, pois as possibilidades são inúmeras para a utilização dessas plataformas em novos “casos de uso”, transformando operações que hoje são complicadas em simples, e melhorando, assim, o dia a dia dos usuários.

Mesmo com os inúmeros benefícios do PIX, é necessário atentar-se aos cuidados em sua utilização. A plataforma do Bacen não está em contato diretamente com os usuários, portanto, o mesmo processo básico dos aplicativos dos bancos e fintechs será utilizado para iniciar os pagamentos com o PIX, entretanto, os cuidados dos bancos e principalmente dos clientes com as senhas e outros fatores relativos à segurança são os elementos chaves para inibir as fraudes.

A adesão ao PIX pelos brasileiros

A pandemia do COVID-19 contribuiu para que a implantação do PIX fosse um sucesso, uma vez que os usuários dos sistemas financeiros tiveram que se digitalizar para manter o isolamento. Com isto, foi necessário aprender a utilizar serviços digitais. Pela estatística do Banco Central, a criação das chaves PIX e o grande número de pagamentos realizados nas duas primeiras semanas de funcionamento da tecnologia, demonstram que houve uma grande aceitação do processo e refletem ainda uma demanda reprimida aos finais de semana, já que a quantidade de transações nesse período tende-se a ser semelhante à média dos demais.

A pandemia trouxe à tona também o aumento dos pagamentos via QR CODE, o que contribuiu de certa forma, na preparação dos clientes para a chegada dessa grande inovação no mercado financeiro, o PIX. Além disso, a inclusão dessas tecnologias dentro dos aplicativos dos PSPs (Prestadores de Serviços de Pagamento), pelas equipes de experiência de usuários (UX), que criaram processos simples e diretos, fará com que os clientes as utilizem mesmo sem o conhecimento técnico desses termos.

Sistema de Pagamentos Instantâneos nas empresas e no setor bancário

As carteiras digitais criadas pelas fintechs até a entrada do PIX eram arranjos fechados. No entanto, atualmente as carteiras digitais podem ser utilizadas amplamente e, desta forma, suprir as necessidades dos clientes com as demandas “bancárias”. As empresas podem ter informações não financeiras no PIX combinado com a instantaneidade do pagamento, o que possibilitará processos automatizados e digitais na esteira de vendas, melhorando o processo como um todo: fechamento do pedido, baixa de estoque, delivery, entre outros.

O sucesso da digitalização do mercado financeiro demandará uma maior migração para o Cloud Computing e muito investimento em Data Science, direcionando os esforços para entender e atender as necessidades dos clientes. A digitalização bancária abre a oportunidade de todos serem atendidos, principalmente os excluídos pelos bancos, diminuindo substancialmente o custo/tempo para os clientes sacarem dinheiro e liquidarem suas obrigações. Além disso, possibilita às instituições financeiras o conhecimento do comportamento dos clientes, o que gerará serviços e produtos mais adequados para a vida de cada cliente.

A hora da diversidade

Precisamos falar sobre o assunto nos conselhos de administração

Por João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive

Um levantamento recente realizado pela Talenses Executive – empresa do Talenses Group exclusivamente dedicada ao recrutamento de executivos(as) para posições no Top Management, C-Level e Conselhos – com mais de 200 conselheiros e conselheiras, revelou que mais de metade do(a)s respondentes só tiveram o primeiro contato com o conceito “diversidade” em conselhos há menos de 5 anos. Se já sabíamos da atualidade e evidência do tema, hoje temos certeza de que inserir a questão da diversidade em rodas de conversas no vértice da pirâmide do mundo corporativo é também inadiável.

Os resultados dessa pesquisa foram tão alarmantes que ousei fazer uma síntese e adicionar perspectivas e visões próprias para construir um texto que metaforicamente funciona como uma bandeira hasteada com os dizeres “Precisamos falar sobre diversidade em conselhos”. E, em termos práticos, cumpre o papel de um convite para que o leitor também embarque nessa jornada.

Para começar, algumas das principais informações do levantamento: 83% dos respondentes disseram que, de forma geral, acreditam que o Brasil ainda possui pouca diversidade em conselhos consultivos ou administrativos; embora, ao mesmo tempo, 92% afirmaram que acreditam que ter conselheiros de diferentes perfis seja benéfico para a organização em que atuam.

São muitos os desafios de se construir conselhos mais diversos. Ao mesmo tempo, são incontáveis os benefícios que surgem como consequências quando nós como sociedade nos dispomos a trilhar este caminho.

Inevitavelmente, a ideia de meritocracia possui inúmeros pontos de falha inerentes ao mundo em que vivemos. E essas fissuras são alargáveis na medida em que decidimos fechar nossos olhos e manter o status quo, nos esquecendo que a desigualdade de oportunidades é quase que um retrato do Brasil. Por isso, nos forçar a incluir quem está à margem é uma obrigação, se realmente quisermos abrir os olhos e fazer diferente. Se, de forma consciente ou inconsciente, continuarmos perpetuando o velho perfil homogêneo dos membros de conselhos de administração (homens brancos heterossexuais nascidos numa determinada região e época), a ideia de meritocracia seguirá sendo uma falácia intransponível.

Por isso, estou certo de que precisamos urgentemente nos desapegar do conceito da meritocracia, e passarmos a contextualizar direções que efetivamente proporcionarão uma mudança que acompanhe as demandas atuais.

Ou seja, para construirmos conselhos diversos, precisamos, inicialmente, incorporarmos a noção de que precisamos nos movimentar para que conselhos mais diversos se tornem uma realidade factível. Para que essa ideia saia do mundo ideal e passe a compor nosso mundo real.

E, se alguém ainda tiver dúvidas sobre o motivo de nos movimentarmos nesse sentido, aqui vai uma breve lista para exemplificar os incontáveis benefícios: pluralidade de ideias; aumento de produtividade e geração de resultado; mais amplitude e profundidade aos debates e decisões; formação de uma cultura heterogênea que comporte ações iguais para os iguais e ações desiguais para os desiguais (conceito de equidade); incremento de inovação e criatividade.

Precisamos falar sobre a diversidade em conselhos. E, mais ainda: precisamos nos movimentar e construir juntos essa diversidade. É uma mudança urgente que precisa se materializar no vértice da pirâmide corporativa.