Novo diretor para a América Latina, Giovanni Carestia quer comemorar com muito trabalho os 260 anos da marca suíça.
Por Mario Ciccone
Desde que chegou à Vacheron Constantin em 2012, o italiano Giovanni Carestia convive com a mesma piada. “É 17 de setembro: festa para Giovanni e para a Vacheron”, ele conta. “Só que tenho bem menos do que os 260 anos da companhia.” Com 35 anos, Carestia é o novo diretor da maison para a América Latina e o Caribe. Ainda jovem, saiu de Foggia, na Apúlia, para estudar e trabalhar em Turim. Depois, foi tentar a sorte em Nova York. Em sua carreira, passou por Loro Piana, grupo LVMH e Ferrari North America, antes de chegar ao grupo Richemont. Na juventude, jogou basquete e foi juiz de futebol em divisões amadoras. Precisou até sair do estádio com proteção policial. “A culpa é sempre do árbitro.” Numa conversa informal na boutique Vacheron Constantin no shopping Cidade Jardim em São Paulo, Giovanni Carestia falou ainda sobre a situação brasileira e o presente de aniversário da marca: o relógio mais complicado do mundo, com 57 funções.
Nascido na Apúlia e radicado no Piemonte. É um belo contraste.
Sem dúvida. Ambos são italianos, mas completamente diferentes. No sul, temos um temperamento forte. No norte, as pessoas são reservadas. Saí de Foggia aos 18 anos. Segui para fazer o curso de engenheiro industrial em Turim e depois trabalhar na Loro Piana, a minha entrada no mercado de luxo. Sempre preferi fazer coisas novas.
Como o quê?
Quando era criança, jogava basquete. Porém, como todo italiano, sou apaixonado por futebol. Daí, eu virei árbitro.
Árbitro?
Sim. Fiz até uma boa carreira. Apitei nas competições regionais e cheguei à Série D, amadora. Já era uma divisão bastante competitiva, com partidas que chegavam a ter até 3 mil espectadores. Comecei aos 16 e arbitrei até os 25. Tinha de comandar uma partida com 22 jogadores, de 20 a 50 anos. Eram pessoas mais experientes, espertas. Eles querem condicioná-lo, para poderem dominar a situação.
Já correu riscos?
Algumas vezes. Sempre havia alguém que não gostava do resultado. E de quem é culpa? Do juiz. Já precisei deixar o estádio protegido pela polícia.
O que você aprendeu em campo?
O árbitro é um psicólogo. Precisa se entender em poucos minutos com quem está falando e tomar decisões. Nas relações comerciais, isso é muito importante. É o que eu vivo com clientes, parceiros e com a matriz em Genebra.
E você foi fazer a América…
Sim, sim, como se dizia antigamente. Para um italiano, o impacto foi fortíssimo. Os americanos são muito pragmáticos. Já os italianos são muito filosóficos. Amamos a análise, gostamos de criar um método, pensamos e repensamos. É um amor à doutrina e à teoria. São quase dois extremos.
A Vacheron faz 260 anos. Como é isso para você?
Trata-se de uma marca incrível, apaixonante. Na alta relojoaria, representa o topo. É uma paixão que existe desde 1755 e que está sempre desenvolvendo um produto inovador. Esse é um incrível ponto de força da marca.
Como manter o brilho das peças antigas?
Temos um arquivo em Genebra, onde conservamos tudo a respeito da produção de todos os nossos modelos. Nosso CEO, Juan-Carlos Torres, fez uma promessa quando assumiu o cargo, em 2005: devemos ser capazes de consertar todos os relógios já produzidos desde 1755. Se alguma peça está faltando, vamos refazê-la e trazê-la de volta em todo o seu esplendor. Isso pode demorar até três anos.
O lema da Vacheron é “Faça o melhor se possível. E sempre é possível…”. Isso vale para o Brasil hoje?
A situação brasileira padece de um pessimismo exagerado. Isso me lembra o vitimismo italiano. É contraproducente. Vivi o ano de 2009 nos EUA. Foi terrível. Porém, eles arregaçaram as mangas e mantiveram o espírito positivo. Agora, estão em um nível superior. Como marca, devemos continuar adiante. O projeto da boutique é importantíssimo. Temos a possibilidade de mostrar os nossos valores e oferecer uma experiência, não apenas um produto. É importantíssimo para o cliente ser atendido em português por pessoas especializadas.
Qual o presente para o aniversário de 260 anos?
O relógio mais complicado do mundo. É um modelo de bolso muito particular, batizado de Referência 57260. Ou seja: 57 complicações mais os 260 anos da Vacheron. Esse relógio levou oito anos para ser feito, por três mestres relojoeiros. Entre seus calendários múltiplos está o calendário perpétuo hebraico, uma das maiores contribuições para a relojoaria mecânica da história. No centro, tem quatro apresentações de fases da lua. Esse sistema só necessita de correção a cada 1.027 anos. Trata-se de uma peça única para um cliente único. (MC)