Negócios de impacto

Saiba por que eles precisam ser prioritários nas agendas dos CEOs

Por Carolina Gentil, empreendedora e co-presidente da Impact Beyond

Negócios de impacto vão além. De acordo com a Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil, desenvolvida pela Força-tarefa de Finanças Sociais, Negócios de Impacto são empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que produzem resultado financeiro positivo de forma sustentável.

Muitos acreditam que olhar e executar as coisas com a lente do impacto ainda seja uma utopia, uma ideologia ou uma tendência de que, em algum momento, esta será substituída pelo novo.

Acreditem, os negócios de impacto são o futuro para sustentar qualquer negócio, seja um negócio pequeno, médio, grande ou gigante. E eles só operam com base na confiança e na colaboração. Não, falar de confiança e de colaboração não é um neologismo como muitos ainda pensam. É pilar, é core, é base estrutural.

Quando analisamos a 4º revolução industrial, com seu início em 2011, segundo dados de Klaus Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial, e autor do livro “A Quarta Revolução Industrial”, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas, vemos também o esforço de transformação das indústrias baseado em dados, mas também passando a colocar as pessoas no centro da estratégia.

Para muitos, a 5º revolução industrial já está acontecendo e se trata exatamente de trazer o olhar humano para equilibrar todas estas tecnologias digitais e físicas à maior das tecnologias de última ponta: a humana.

Não é de hoje que marcas levantam bandeiras em torno dos grandes temas da humanidade e esta definitivamente não é uma tarefa fácil para CMOs do Brasil e do mundo. Tratar de problemas sociais requer se aprofundar nesses temas e acredito que é por isso que grande parte das marcas ainda comunicam mais do fazem. Mas há um motivo para isso: elas dependem de suas estruturas.

Apenas quando as grandes estruturas empresariais e industriais não compreenderem que o impacto, a sustentabilidade e a inovação não são departamentos, e sim pilares estruturais do negócio, temas como impacto social, diversidade, inclusão e mudanças climáticas deixarão de ser tarefas e metas entre times e passarão a ser chave para que profissionais e executivos destravem e operem de um novo jeito.

Mas como podemos colocar as pessoas de fato no centro de nossas estratégias se vivemos em uma sociedade fragmentada, movida por ideologias, pela competição entre nós e uma série de fatores que nos separam como humanos, geram pobreza, guerras, corrupção e tumultos?

Colocar as pessoas no centro da estratégia das empresas é ter que mergulhar de verdade nos temas em torno da sociedade: escassez de recursos, o consumo desenfreado sendo colocado em xeque, a desigualdade social cada vez mais aparente, o acesso à informação tornando as pessoas mais sensíveis a comportamentos nocivos, as mobilizações coletivas por causas beneficentes, a transparência que virou parâmetro de validação entre pessoas e instituições. Enfim, são muitas e complexas questões.

E se são muitas, acreditem: separados somos mais fracos do que juntos. Temos que colaborar uns com os outros, até com os concorrentes, pesando na prosperidade da indústria ou do segmento que você está inserido.

Competir é o oposto do que a biologia faz. As células, por exemplo, são capazes de se organizar e colaborar para criar sistemas maiores do que elas e, assim, cumprir sua principal missão biológica, sobreviver e se reproduzir.

As ideias que vão resolver os grandes problemas da humanidade estão escondidas em todo o mundo porque seus criadores nem sempre são visíveis, nem têm espaço ou conhecimento para implementá-las. Esse talento não está concentrado em grandes organizações, mas sim distribuído na sociedade.

Métodos de criação, detecção, seleção e suporte para soluções em estágio inicial são muito caros devido ao risco que representam e à baixa capacidade de apoiá-los.

Existe uma grande desconexão entre criadores, empresários, grandes empresas, governos, lideranças periféricas, usuários e terceiro setor para criar soluções inovadoras e lucrativas que podem melhorar o mundo e gerar valor às empresas. Hoje, existem incentivos sociais para que, como indivíduos, nos separemos.

Se o objetivo final da vida de um indivíduo for ganhar mais dinheiro ou poder, é mais provável que haja conluios, pactos unilaterais, corrupção, baixos salários, exploração, poluição e uma série de atividades que fazem muitos perderem e poucos ganharem, gerando descontentamento social e uma atmosfera de raiva pela mudança.

Movimentos como o The Elders, organização internacional fundada em 2007 pelo líder sul-africano Nelson Mandela a partir da ideia do roqueiro e ativista Peter Gabriel e do milionário britânico Richard Branson, trabalham juntos pela paz e pelos direitos humanos.

Estes são movimentos prósperos para o ecossistema econômico e os negócios do entorno, sejam pequenos, médios, grandes ou gigantes. Mas tem um segredo: a distribuição em rede, a verticalização para gerar reconexão com a base. E é lá, da base estrutural, que o líder de uma organização precisa perder horas de trabalho, integrando em suas estruturas: o impacto, a sustentabilidade e a inovação aberta. Dessa forma, a estrutura definitivamente passa a seguir a estratégia e não ao contrário.

Você já tentou fazer um exercício de pensar em um problema social que você, como ser humano, gostaria muito de resolver? Anote. Agora pense se em algum dos desafios de negócio que você tem que resolver poderia ser base ou um insight de conexão entre tal problema da sociedade e seu desafio de negócio. Deve ser muito mais interessante estar entre os shareholders do que entre os stakeholders.

A pergunta principal é: em que mundo queremos viver? Eu desejo um mundo onde quem faz o outro vencer, vence em uma sociedade onde nos respeitamos e aceitamos uns aos outros. Onde o que fazemos todos os dias beneficia outros e também outros nos beneficiam. Onde fazer o bem é um grande negócio.

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