A evolução do luxo

Entenda o que é estar muito além do consumo, fazer valer o bom gosto e desenvolver a sua cultura

Por Fernanda Ralston Semler, idealizadora do movimento do pós-luxo e sócia-proprietária do Botanique Hotel & SPA

Um novo olhar sobre o luxo, com ampla revisão de valores no conceito e classificação de produtos, serviços e bens de consumo, muito além do que representam marcas globalizadas pretensamente luxuosas e seus preços exorbitantes, faz-se mais do que nunca necessário nos tempos disruptivos que estamos vivendo.

Esta nova estética e valoração das coisas e signos que permeiam o luxo vem a calhar no momento em que são claros e abusivos os excessos do consumismo e do desperdício.

O comportamento de um consumidor “Pós-Luxo” prioriza o “art de vivre” através de experiências adquiridas não somente pelo tamanho de suas contas bancárias, mas sobretudo porque têm refinamento intelectual, conhecimento, educação e elegância natural. Estas pessoas orbitam naturalmente em torno de projetos e ideias sob um novo prisma de exclusividade que o dinheiro não pode comprar, mas o bom gosto sim.

Elas escolhem, por exemplo, visitar vinícolas na Borgonha ou Bordeaux, não apenas porque desejam comprar ou provar vinhos de quatro ou mais dígitos, mas porque querem aprender a produzi-los ou criar seu próprio blend, com a expertise de um renomado enólogo, em uma experiência que os transformará, os deixará mais ricos e abastecidos.

O novo luxo pode estar presente em um móvel de madeira certificada, um tipo raro de café, um destilado ou fermentado produzido artesanalmente em pequena escala, um acessório feito à mão e que utiliza matérias primas raríssimas, uma escultura de coleção, um produto numerado com pouquíssimos exemplares, ou um empreendimento hoteleiro e imobiliário cujas premissas estão em consonância com seus filtros e pilares.

Neste caso específico, o produto ou empreendimento deve impactar positivamente a vida de pessoas e da comunidade do seu entorno, em sintonia e harmonia com o estilo de vida da região, da atividade econômica local, do meio ambiente, sem alterar a rotina dos moradores, mas ao contrario, integrando-os ao contexto, fazendo deles seus fornecedores e colaboradores diretos ou indiretos.

O conceito transita, portanto, também pelo viés social e da sustentabilidade, do comportamento e atitude. Pós-luxo é ser gentil, educado, deixar o outro passar na frente, sorrir, ter tempo; é cultivar conhecimento não por vaidade, mas por puro prazer de aprender. É comprar uma bolsa ou roupa de tamanha qualidade, que estará com você por décadas.

Claro que alta costura, joalheiros e “relojoaria” de prestígio internacional, palácios, automóveis de exceção, iates e outros objetos do desejo continuarão sendo aspiracionais e restritos à uma pequena faixa de endinheirados consumidores. Mas a pergunta que fica é: eles representam o pós-luxo? Na medida em que estas peças se globalizaram e estão presentes nas grandes metrópoles de consumo, podendo ser facilmente encontradas, elas deixam de ser exclusivas para caírem no gosto da maioria. Nessa perspectiva, o selo Pós-Luxo propõe uma verdadeira malha fina no mundo do luxo, uma percepção mais apurada e, portanto, com maior valor agregado.

Se empreendedores e criadores quiserem abraçar o novo luxo, precisam se afinar com 5 filtros fundamentais – a começar pela Qualidade da Matéria-Prima, embasada por pesquisa sólida ou métricas Imparciais. Um produto com a chancela “Aprés-Luxe” tem que necessariamente estar muito bem colocado em rankings, ser detentor de selos e prêmios relevantes.  Atemporalidade é o segundo filtro e baseia-se na noção do eterno, do que é importante desde ontem, hoje e amanhã. Originalidade e Inovação, com a proposta de algo jamais visto ou criado, e que não seja copiado de outras ideias, é o terceiro filtro.

Autenticidade Local ou Propósito Maior é o quarto pilar. E Valor justo e Mark-Up coerente, principalmente nos dias atuais onde marcas perderam a noção do “pricing” e extrapolam nos valores, sem oferecer um produto à altura, é um dos filtros mais relevantes do “Aprés-Luxe”.

Há, felizmente, uma quantidade crescente de pessoas que já passaram pelo luxo tradicional e estão prontas para abraçar este novo estilo fundado no pós-luxo. E uma quantidade animadora de jovens que sequer se vê atraído pelo canto da sereia de algumas grifes consolidadas mundialmente, mas que não traduzem este novo modo de ser.

Para mais informações: www.apresluxe.com.br

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *