Open Banking vai juntar tradição e inovação para criar um novo mercado
Por Fernando Iodice, vice-presidente do grupo Red Ventures no Brasil
Apesar das turbulências causadas pela pandemia do novo coronavírus, temos uma boa notícia, ao menos para as fintechs do País. Trata-se do tão aguardado Open Banking, regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) pelo Banco Central (BACEN). Com implementação faseada, o modelo tem início em 30 de novembro deste ano, com conclusão prevista para outubro de 2021. Mas o que isso significa?
Na prática, significa que existe um novo movimento que pode acelerar integrações entre as sólidas instituições bancárias e empresas mais jovens que têm construído aplicações inovadoras usando alta tecnologia. Compartilhar informações entre instituições passa a ser uma decisão do cliente, permitindo, assim, uma competição saudável, ao mesmo tempo que gera mais valor, por meio do uso de tecnologia e experiências inovadoras.
Para o cidadão comum, trocar de banco poderá ficar mais fácil, bem como escolher quais produtos de quais empresas ele quer adquirir. Em um momento em que se fala muito de economia compartilhada e plataformas de streaming, faz sentido que a vida financeira também possa ter opções de produtos variadas e descentralizadas, com escolhas a um “clique”.
O movimento faz parte da inovação do setor bancário, mas não é exatamente novidade. Desde a criação do The Open Banking Working Group, em 2015, o Open Banking ganhou corpo e abrilhantou os olhos daqueles que sonham com processos bancários mais ágeis e uniformes, além da possibilidade de aumentar a venda de produtos a partir do uso de APIs (Interface de Programação de Aplicações, do inglês Application Programming Interface), sigla que abre portas no mundo digital e é imprescindível para que a mágica descrita aqui aconteça.
Para funcionar, bancos e fintechs precisarão ter uma “camada de tecnologia” padronizada. É aí que mora um dos desafios para os players do mercado. Além das questões técnicas e reforços na segurança, é preciso universalizar o acesso a serviços bancários. Um dos maiores empecilhos para a operação do Open Banking no Brasil é justamente o elevado número de brasileiros sem conta em bancos, situação que afeta boa parte da população.
Segundo dados do Instituto Locomotiva (2019), há 45 milhões de pessoas desbancarizadas no País. É uma parcela relevante, responsável por movimentar R$ 817 bilhões por ano sem possuir conta em banco. Um dos motivos, como consta na pesquisa, é o fato de a população achar mais fácil controlar a vida financeira por meio do dinheiro em espécie. Novos usos para tecnologia devem ajudar a facilitar este controle financeiro, reduzir custos para servir novos clientes e assim ajudar universalizar o acesso a serviços bancários.
As instituições têm também o seu papel na conscientização sobre a variedade de serviços que podem oferecer, que vão além de guardar dinheiro e permitir seu saque. Para isso, a integração entre fintechs e bancos, mais uma vez, faz-se necessária, pois alia tradição à expertise de sugerir aos clientes soluções que se encaixam exatamente em seus perfis. Além disso, parcerias entre negócios, a princípio, antagônicos também podem dar liga.
A maior empresa de telecomunicações do Quênia, Safaricon, por exemplo, lançou em 2007 uma ferramenta para transferência de créditos de celular que passou a funcionar como um banco. O sistema M-Pesa é visto como a solução para os desbancarizados: basta ir a um ponto de varejo e trocar dinheiro em espécie por créditos digitais. Se uma empresa de telecom fez isso sozinha, podemos nos arriscar a imaginar que a ação conjunta a um banco ou fintech iria ainda mais longe. A chave para a adaptação ao Open Banking – e ao futuro – está então na integração a partir da construção de parcerias inteligentes