Pensar global, agir local

A boa gestão dos recursos naturais pode ajudar inclusive o mercado imobiliário

Por Danilo Igliori, economista-chefe do Grupo ZAP e chairman da DataZAP

A gestão ambiental não é um problema novo, mas a crise do Coronavírus ampliou muito as discussões sobre o tema. Na realidade, a própria ocorrência de pandemias tem sido analisada dentro da perspectiva ambiental, na qual as relações entre economia e conservação de ecossistemas vêm para o centro do debate.

Na mesma direção, a preocupação com as mudanças climáticas renovou-se e fez com que a agenda ambiental entrasse prioritariamente nas relações entre países, empresas e investidores. As questões ambientais entram de forma igualmente importante no nosso dia-a-dia. Padrões de consumo e comportamento individual fazem a conexão dos grandes temas globais com a realidade de cada um – e daí vem o tradicional lema da causa ambiental que inspira o título desta edição. Mas, o que isso tem a ver com o mercado imobiliário? Resposta: tudo.

Conceitualmente, economia do meio ambiente e economia das cidades se aproximam pela relevância do problema de externalidades em seu funcionamento. É importante lembrar que externalidades são os efeitos não intencionais de nossas ações sobre os outros.

Aliás, falhas de mercados são abundantes em ambos os casos, o que coloca a necessidade da regulação em evidência para otimizarmos os resultados de nossas interações. E a conexão fica explícita quando reconhecemos que usos e ocupações do solo promovidos pelos mercados imobiliários transformam o meio ambiente. Indo muito além de aspectos conceituais, as relações entre habitação e meio ambiente se expressam. Por exemplo, o saneamento básico, cujo marco regulatório foi reformulado recentemente pelo Congresso Nacional, representa, de um lado, a infraestrutura para a moradia de qualidade e, de outro, a base para que populações humanas diminuam impactos sobre o meio ambiente.

Saneamento básico e habitação andarão de mãos dadas como objetos de investimento público e privado no processo de recuperação econômica. O licenciamento ambiental de empreendimentos é outra área de interface.

Aqui existem muitas oportunidades para que governos e setor privado avancem em arcabouços regulatórios e eficiência de processos para que economia e meio ambiente andem juntos. Do lado da engenharia, poderíamos mencionar novos padrões construtivos que se voltam para a otimização no uso de materiais, eficiência energética e redução no consumo de água.

Localização residencial e qualidade ambiental também aparecem interligadas. Pesquisas indicam a contribuição de amenidades no preço dos imóveis. Além de níveis de poluição (do ar e sonora), condições climáticas, arborização, proximidade de parques (ou praias) frequentemente impactam preços dos imóveis de forma relevante.

Talvez o fator ambiental mais relacionado com moradia que a pandemia tenha destacado seja o deslocamento entre residência e trabalho, que são responsáveis por grandes volumes de emissões de carbono (além dos custos em tempo perdido e impactos na saúde). A diminuição da atividade econômica por conta do distanciamento social e a intensificação trabalho remoto impactaram essa realidade e apresentam questões de como a forma urbana será transformada no futuro.

Novamente, dimensões ambientais precisam ser consideradas. Se de um lado economizamos em emissões e outros custos ao irmos menos (ou deixarmos de ir) aos locais de trabalho, de outro, o espraiamento da população pode implicar maiores custos ambientais na construção do espaço e consequente provisão de infraestrutura.

Não existe nada de trivial nas escolhas que tratam da gestão ambiental, mas não enfrentar os desafios com o melhor que temos de conhecimento é o pior caminho. Ignorar os riscos certamente não ajuda também. Nossa esperança está em imaginar que os alertas amplificados pelo que estamos passando serão suficientes para que a agenda da sustentabilidade não perca prioridade.

Indivíduos, empresas, governos e instituições diversas precisam se envolver para valer nisso. O bem comum que resultará dos esforços coletivos será benéfico para cada um de nós.

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