O que fazer?

Os erros cometidos por CEOs durante a pandemia têm muito a nos ensinar

Por João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive

Em levantamento feito no segundo trimestre deste ano com 103 conselheiros administrativos e consultivos de empresas, muitos foram os “erros” cometidos por CEOs na condução de seus negócios durante a pandemia do novo coronavírus. Entre eles, a demora na tomada de decisões, tomada de atitudes com emoção, centralização da decisão, aversão ao risco e condução excessivamente conservadora diante de oportunidades, descolamento da realidade por meio de otimismo ou pessimismo em excesso.

Os conselheiros e conselheiras comentaram, ainda, sobre os fatores que mais podem influenciar positivamente na performance do CEO durante uma crise. Segundo os entrevistados, ter experiência anterior em crises e comandar uma equipe multidisciplinar seriam bons diferenciais. Além disso, é importante montar um comitê de crise, possuir um conselho administrativo ou consultivo e ter anteriormente um processo de gestão organizado para momentos excepcionais.

Estávamos em março de 2020 e o mundo simplesmente parou. Catatônicos, assistimos o ano desaparecer a olhos vistos e, com ele, nossos planos pessoais e profissionais, nossos sonhos, e nossa esperança de um novo ciclo de prosperidade.

Certa vez, escutei que a definição de crise é quando o “velho” ainda não morreu e o “novo” ainda não nasceu. Portanto, infelizmente, para nós brasileiros, a palavra crise continuará fazendo parte do nosso cotidiano. Além do vírus que destruiu o planejamento mundial, nosso país terá de encarar o imenso “cheque especial” que todos iremos pagar nos próximos anos.

Em treinamentos voltados à alta liderança de organizações, é comum encontrarmos frases do tipo: “A única pergunta estúpida é aquela que não é feita” ou frases como, “O único problema do planejamento é que as coisas nunca ocorrem como foram planejadas”, ou ainda, “Para aprender a ter sucesso, é preciso primeiro aprender a fracassar”, entre outros tantos mantras que autores e lideranças de todas as esferas públicas e privadas consideradas inspiradoras, publicam em seus manuais de autoajuda pessoal ou empresarial para legiões de seguidores que diariamente repetem essas mesmas frases dia após dia.

Dentro deste trágico contexto, o que teriam a dizer agora aos seus seguidores a essas lideranças tão inspiradoras? Além dessa pergunta que me permito fazer, caberiam outras como: será que, ao elaborarem os seus planos estratégicos, governantes, investidores, empresários, executivos, entre outras lideranças, fizeram todas as perguntas certas ou “estúpidas”? Será que previram todos os potenciais cenários em sua gestão de riscos? Será que a liderança contemporânea como conhecemos possui a vivência e a experiência necessárias para administrar um cenário tão adverso?

Seria, então, realmente justo falarmos em erros cometidos pelos CEOs durante a pandemia? Pelo contrário, estamos diante de uma grande oportunidade de analisarmos e aprendermos juntos. Nenhum de nós vivenciou algo dessa proporção. Mesmo assim, recebemos o impacto e, com extrema coragem e determinação, conduzimos nossas vidas e nossas organizações no sentido de sairmos todos “vivos” do outro lado dessa grave crise.

Parecem lógicos e até óbvios os pontos levantados pelos(as) experientes conselheiros(as). Na verdade, eles são mesmo pontos lógicos e compatíveis com a expectativa que tem um conselho aberto ou consultivo em relação à condução estratégica e tática dos negócios por meio das decisões tomadas pelos seus CEOs. No entanto, o que de fato houve não foram erros de condução ou atitude dos(as) líderes, mas sim o impacto devastador do sobrevoo de um enorme “Cisne Negro”. A sombra projetada pelas suas asas escureceu a visão da humanidade. Isso desequilibrou até as mais lideranças mais experientes e inspiradoras.

O fato é que, mesmo com muito mais tempo de experiência profissional e pessoal, também conselheiros e conselheiras, igualmente contemporâneos, nada puderam fazer pelos seus ou suas CEOs, pois também não viveram em suas carreiras e vidas pessoais, um acontecimento de tamanha e tão grave proporção ou impacto. Assim, as contribuições que puderam dar ao apontarem os “erros” cometidos pelos(as) CEOs durante a pandemia, foram exatamente e oportunamente aquelas que, como comentei, considero uma grande oportunidade e o início de um novo ciclo dos indivíduos, das famílias, dos governantes, de empreendedores e da humanidade.

Neste momento, passamos por um amplo processo de introspecção e reciclagem comportamental, estratégica, gerencial e técnica. Isso vale também para CEOs e presidentes. Os seus desafios de hoje, certamente, irão auxiliar os líderes do futuro. As novas gerações e o planeta ganharão com isso.

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