Precisamos falar sobre o assunto nos conselhos de administração
Por João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive
Um levantamento recente realizado pela Talenses Executive – empresa do Talenses Group exclusivamente dedicada ao recrutamento de executivos(as) para posições no Top Management, C-Level e Conselhos – com mais de 200 conselheiros e conselheiras, revelou que mais de metade do(a)s respondentes só tiveram o primeiro contato com o conceito “diversidade” em conselhos há menos de 5 anos. Se já sabíamos da atualidade e evidência do tema, hoje temos certeza de que inserir a questão da diversidade em rodas de conversas no vértice da pirâmide do mundo corporativo é também inadiável.
Os resultados dessa pesquisa foram tão alarmantes que ousei fazer uma síntese e adicionar perspectivas e visões próprias para construir um texto que metaforicamente funciona como uma bandeira hasteada com os dizeres “Precisamos falar sobre diversidade em conselhos”. E, em termos práticos, cumpre o papel de um convite para que o leitor também embarque nessa jornada.
Para começar, algumas das principais informações do levantamento: 83% dos respondentes disseram que, de forma geral, acreditam que o Brasil ainda possui pouca diversidade em conselhos consultivos ou administrativos; embora, ao mesmo tempo, 92% afirmaram que acreditam que ter conselheiros de diferentes perfis seja benéfico para a organização em que atuam.
São muitos os desafios de se construir conselhos mais diversos. Ao mesmo tempo, são incontáveis os benefícios que surgem como consequências quando nós como sociedade nos dispomos a trilhar este caminho.
Inevitavelmente, a ideia de meritocracia possui inúmeros pontos de falha inerentes ao mundo em que vivemos. E essas fissuras são alargáveis na medida em que decidimos fechar nossos olhos e manter o status quo, nos esquecendo que a desigualdade de oportunidades é quase que um retrato do Brasil. Por isso, nos forçar a incluir quem está à margem é uma obrigação, se realmente quisermos abrir os olhos e fazer diferente. Se, de forma consciente ou inconsciente, continuarmos perpetuando o velho perfil homogêneo dos membros de conselhos de administração (homens brancos heterossexuais nascidos numa determinada região e época), a ideia de meritocracia seguirá sendo uma falácia intransponível.
Por isso, estou certo de que precisamos urgentemente nos desapegar do conceito da meritocracia, e passarmos a contextualizar direções que efetivamente proporcionarão uma mudança que acompanhe as demandas atuais.
Ou seja, para construirmos conselhos diversos, precisamos, inicialmente, incorporarmos a noção de que precisamos nos movimentar para que conselhos mais diversos se tornem uma realidade factível. Para que essa ideia saia do mundo ideal e passe a compor nosso mundo real.
E, se alguém ainda tiver dúvidas sobre o motivo de nos movimentarmos nesse sentido, aqui vai uma breve lista para exemplificar os incontáveis benefícios: pluralidade de ideias; aumento de produtividade e geração de resultado; mais amplitude e profundidade aos debates e decisões; formação de uma cultura heterogênea que comporte ações iguais para os iguais e ações desiguais para os desiguais (conceito de equidade); incremento de inovação e criatividade.
Precisamos falar sobre a diversidade em conselhos. E, mais ainda: precisamos nos movimentar e construir juntos essa diversidade. É uma mudança urgente que precisa se materializar no vértice da pirâmide corporativa.